terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O resultado


Depois de tanto investigar, cobrar explicações, ligações, enfim, eis a entrega do elevador portátil para o Christian.
















Foto: Évelyn Centeno/Divulgação/PMPA

Leia matéria que saiu no site da Prefeitura de Porto Alegre:



segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Adolescente tem aula sozinho em Escola Municipal de Porto Alegre



Lucas Rivas, Marcia Dihl e Vanessa Schneider


Christian Muller tem 14 anos e é um menino especial. A deficiência que o impede de se locomover sozinho, foi diagnosticada quando ele tinha apenas nove meses. Mesmo assim o garoto não admite ficar parado: pela manhã, faz aulas de natação, teatro e ainda brinca com os amigos. Dificuldade só tem encontrado onde menos se espera: no colégio onde cursa a sétima série. O primeiro obstáculo se apresenta logo na entrada da Escola Municipal Wenceslau Fontoura, no bairro Mário Quintana, zona norte de Porto Alegre. Christian precisa ir até a metade da quadra para poder subir na calçada, e então dirigir-se até o portão, pois na frente da escola não há rampas ou calçada adaptada. O local é bastante íngreme para um cadeirante descer ou subir. E as dificuldades não param por aí.

Desde o ano de 2010, ele não consegue assistir às aulas de informática no laboratório temático da disciplina, localizado no segundo andar. Enquanto seus colegas se deslocam para o segundo piso, Christian permanece na biblioteca, que fica no andar térreo. E como vencer desafios faz parte da sua história de vida, o computador que ele utiliza está danificado.

Christian sempre teve que ser carregado nos braços pela mãe ou professores para subir ao segundo andar do prédio para receber as aulas das demais disciplinas juntamente com os seus colegas, porém, conforme a mãe do garoto, ele já está pesado e fica difícil para ela e para os professores o levarem até o segundo piso. O menino lembra bem do dia em que a situação ficou insuportável: “uma professora minha estava descendo comigo pelas escadas, o chinelo dela deslizou no degrau e ela foi caindo na escada me segurando para não me deixar cair”, lembra o estudante. “Não é pelo computador, pois tenho um em casa, eu sinto falta é da folia e a integração com os colegas em sala de aula. Aprender sozinho eu até aprendo, mas não é a mesma coisa, eu sinto falta de estar na sala de aula com os meus colegas, tendo aula no laboratório. Antes eu ficava constrangido por eles terem que descer e ter aula lá embaixo por minha causa, mas hoje sei que eles fazem para me ajudar” desabafa Christian.

Conforme a mãe de Christian, Ângela Muller, 50 anos, a Secretaria Municipal de Educação chegou a cogitar a possibilidade de trocá-lo para outra escola, mas isso não ocorreu. “Uma pessoa da Secretaria Municipal de Educação falou que já que a escola não tem acessibilidade, havia a possibilidade de trocar ele para outro colégio que tivesse adaptado. Nem eu e nem o Christian gostamos da proposta. Ele iria perder todos os coleguinhas que têm desde a pré-escola e os professores, além de ser longe da minha casa. Não é ele que tem que trocar de escola e se adaptar a ela e sim a escola tem que se adaptar à ele. É um direito dele”, enfatiza.

E não é por falta de recurso que um elevador não foi construído. Conforme a diretora da escola Denise Melo, em maio deste ano, foi depositado na conta da instituição, uma verba extra dada pela Prefeitura de Porto Alegre no valor de 29 mil reais para a construção de um ascensor. Christian passou todo ano de 2011 sem poder subir ao segundo andar para ter aula no laboratório de informática junto aos demais colegas. Passados seis meses, desde o depósito, a Secretaria de Educação do Município confirmou que a instalação do elevador móvel vai começar no dia nove de dezembro.“Meu filho começou as aulas em março e passou o ano inteiro sem ter aulas de informática com os colegas dele, agora está chegando o final do ano, as aulas vão terminar, e fico na esperança de que no ano que vem tudo se ajeite.” reclama a mãe de Christian. Conforme a diretora, o valor da licitação para a compra do elevador foi de R$ 15.500,00, e o dinheiro que sobrou na conta da escola a Prefeitura ainda vai decidir o que fazer.

A demanda de denúncias por melhores condições vem aumentando nos últimos anos junto a Promotoria da Infância e da Juventude do Ministério Público Estadual. Para a promotora Synara Buttelli, algumas instituições não estão respeitando a Resolução Nº 008, do Conade, de 20 de junho de 2001, que recomenda à inclusão da Pessoa Portadora de Deficiência, no sistema regular de ensino.

A Promotoria classifica como “muito ruim” a acessibilidade nas escolas de Porto Alegre. Por isso, Synara Butelli promete abrir um expediente especifico para apurar as possíveis irregularidades na Escola Wenceslau Fontoura e se necessário penaliza-la. “Vamos verificar a situação atual desta instituição e seremos ainda mais rígidos se confirmarmos que repasses foram feitos sem serem aplicados na escola. Caso contrário o município poderá ser denunciado”, alerta.

Segundo a promotora, cerca de 15 escolas, entre municipais e estaduais foram fiscalizadas em Porto Alegre pelo Ministério Público somente neste ano. Na maioria dos casos, elevadores, rampas, e classes especiais foram adaptadas nos prédios sem a necessidade de intervenções judiciais. “Em várias escolas os reparos foram realizados de formas administrativas, somente através de cobranças diretas às secretarias de Educação”, explica.

Com aproximadamente 300 colégios espalhados pela capital, o órgão pretende regionalizar a fiscalização junto às escolas para inspecionar melhor todas estas instituições.

A rede pública municipal de ensino tem 55 mil alunos matriculados, destes, cerca de 5% tem algum tipo de deficiência. Segundo a assessoria de imprensa da Smed, não há levantamento de quantos estudantes são cadeirantes.

De acordo com o Censo 2010, o Rio Grande do Sul conta com quase 1,2 milhão de estudantes. Na rede estadual, aproximadamente 4 mil alunos apresentam alguma deficiência como: visual, baixa visão, surdez, deficiência auditiva, deficiência física e múltipla. Mais 13 mil estudantes possuem apenas alguma espécie de deficiência intelectual.

O secretário da Secretaria Especial de Acessibilidade e Inclusão Social de Porto Alegre, Paulo Brum, admite que a atenção aos estudantes deficientes ainda é muito baixa. “Até pouco tempo atrás, os projetos que envolviam a acessibilidade nas escolas passavam longe das discussões. Algumas escolas até conseguiram incluir a acessibilidade, mas muita coisa ainda deve ser feita nesta área”, lamenta.

Conforme a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), somente 20% das escolas estaduais gaúchas contam com recursos para contemplar alunos que possuem algum tipo de deficiência. Os números são estimados pela própria Secretaria.

Uma das escolas beneficiadas por este recurso também está localizada na capital gaúcha e serve de modelo quando o assunto é acessibilidade escolar. Segundo a Smed, foram investidos cerca de R$ 350 mil em obras ou equipamentos distribuídos aos alunos com deficiência. Desde 2006, o colégio Marcirio Loureiro Goulart, localizado na zona sul da capital, conta com um elevador, que conduz os alunos e professores com dificuldades de locomoção e usam cadeiras de rodas. Além de banheiros masculino e feminino adaptados e da rampa de acesso na entrada do colégio.

Alisson Martins Cunha, 14 anos, é um dos estudantes que se desloca facilmente entre os corredores do prédio. “Eu gosto muito de estudar, poder vir no colégio e estar com meus colegas” resume sorridente aluno. A vice-diretora, Maria do Carmo Santos, ressalta que a criança com necessidades especiais que tem rampas de acesso, banheiros adaptadas, elevadores tem melhor rendimento em sala de aula. “Ajuda no aprendizado, na auto-estima desse aluno que se sente mais integrado no ambiente escolar’.

O diretor do Departamento Administrativo da Secretaria Estadual da Educação, Cláudio Sommacal, explica que os recursos, projetos e reformas destinados a acessibilidade começaram a crescer há cerca de cinco anos. “A Seduc intensificou a adaptação nas escolas, depois que a Procuradoria Geral do Estado (PGE) determinou, em 2007, a construção de prédios com inclusão a acessibilidade”, explica. São 314 projetos em andamento que visam a instalação de corrimãos, rampas, elevadores, pisos especiais, banheiros adaptados, entre outros. Para readequar as instituições, a secretaria esclarece que as solicitações e execuções de obras devem ser realizadas junto as coordenadorias educacionais ou através do Ministério Público, Justiça, ou ainda pelo Conselho Estadual de Educação.

** No fechamento desta matéria a assessoria de imprensa da Smed comunicou a reportagem que o elevador móvel será entregue no dia 09/12 a Escola Wenceslau Fontoura.

Depois de tanto investigar e questionar, podemos dizer que o nosso dever foi cumprido. Mostramos que podemos fazer a diferença, sim. Ficamos no pé de quem realmente precisava, questionamos, denunciamos, revelamos, destacamos, enfim, fizemos o nosso trabalho de jornalistas. Fomos atrás da informação e colocamos ela em pauta. Ajudamo não só o Christian, mas também como outras crianças. Um alerta foi dado para que as escolas de Porto Alegre possam, tão breve, deixá-las adaptadas e acessíveis para todos!!